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02/04/2018

Dobrado



Virei a esquina,
Numa esquina que eu não conhecia nem sabia que esquinava ali,
Virei-a sem medo de a dobrar!
Dobrei-a sem receio daquilo que para além da esquina oculta e desconhecida;
poderia lá encontrar.
Seguia eu antes, um caminho a direito, sem virar em lado algúm.
Ia.
Sempre em frente mesmo que agrilhoado.
Sempre na mesma direcção que é o caminho que nos leva a um destino a alcançar.
Fui.
Até que me aproximei da esquina que já dobrei à pouco.
Seduziu-me a incerteza de outro destino.
A promessa vã de um futuro outro.
E lá dobrei ou virei a esquina que é como tantas outras; 
feita para dobrar.
Virei.
Vou agora, depois de dobrar a esquina passada; neste caminho, 
até outra esquina que me peça para a dobrar.
É que também só assim as esquinas fazem sentido e parte deste Universo nosso.
Só existem se alguém existir para delas fazer uso.






09/03/2018

Além


Sabe-me pelo meio.
Nunca inteiro nem sempre parcial.
Sem que me conheças o inicio nem que te seja visível a aparição do meu final.
Olha-me sem opacidades,
sem transparências ou erros de presumidas realidades.
Sabe-me por dentro.
Com a voz suprimida por um uivo num momento!
Sabe-me!
Conhece-me!
Distingue a minha mão nas outras mãos todas.
Vê-me como se revê uma imagem esfumada numa fotografia de um outro tempo...
E se sabe que ali estava quase que imune ao tempo.
Sabe-me como quem prova o sangue de um fantasma de uma outra Era.
Olha-me.
Já não sei se eu era, 
o que te era.