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27/09/2015

Guarda-me

Sei um tudo.
Sei que esse tudo que eu sei
não é nada sem que Tu o descubras e o recebas no colo.
Sei que a vida tem um segredo,
um que não vive rodeado de um medo medonho,
que impede que o sonho se torne a Vida e que a Vida
passe por ser um sonho.
Sei de uma carta que Te escrevi,
que beijei antes de fechar,
que encostei ao meu corpo para que quando a estivesses a ler,
a desejasses abraçar sem a perder.
Sei de uma janela que me trás um horizonte no meio da noite,
que faz da minha voz,
uma mensagem que merece ser passada,
domada, aquietada...
Sei de um tudo vês?
Sei até que o meu corpo começa aos Teus pés.
Que a Tua boca finda no meu peito e que na Tua pele,
está o meu contorno,
desenhado a lápis de cor,
com cuidado,
sublinhado e apetecido, redondo.
Sei que tu me escutas e que a dança nos une,
como se não existisse mais nada.
Sei de um tudo que é Teu.
Esse tudo sou Eu. 
Guarda-me na ponta dos Teus dedos.
Eu guardo-Te nos meus. 







26/09/2015

Abrigo

O que te dizem os meus olhos?

Falam-Te o que eu não digo.
O que não murmuro nem Te nego num suspiro.
Falam-te ao canto do ouvido adormecido e ensinam-Te que todas as cores do Mundo,
desde o azul mais azul,
ao branco mais profundo,
montados no Rosa que nos enche de perfume,
e num laranja fogo sem chama rebelde a queimar;
são as Testemunhas solícitas,
de que Tu e Eu aqui estamos,
sentados por debaixo de um Céu Mar de Estrelas,
que nunca nos disse nem impôs,
aonde seria o nosso lugar, 
mas que sempre reservou, 
o nosso abrigo feito ninho



 

25/09/2015

Serenidade

Não trago em mim nenhum segredo.
Dei-os todos ao Mar que nunca me deixou de escutar.
Não guardo nem recebo, mais algum medo!
Não trago nenhuma recordação, 
nem de olhos cerrados, 
abertos ou abrasados.
Não trago nada comigo.
Não tenho terra nos dedos, 
nem voz no Céus...
Tenho apenas nos olhos a esperança que lhes dita o destino.
Sei o meio da estrada e a luz na fresta da portada!
Trago a fala sem discurso absurdo.
Sofro uma dor que até já nem mais dói.
Não trago em mais nada mais...
Nem um queixume soprado suavemente como uma deixa.
Ocupas todos os lugares, 
que de um vazio plantado,
já não transbordam mais. 







24/09/2015

Árvore

Encontrei-te.
Não estavas perto nem sob a minha mão.
Não dei espaço ao pensamento e à razão de ser 
do que não deve ser questionado.
Perguntei tudo e não esperei por uma só resposta que me desse calor.

Encontrei-te.
Mesmo quando nunca te havia procurado.
Longe de mim,
estavas nesta árvore 
já aqui ao meu lado...







20/09/2015

Caderno com capa de pele

Encontrei um caderno antigo, 
com notas visíveis do peso dos anos, 
pistas memoráveis de uma utilização
constante, 
diária e ritualista.
Era um caderno com alma e rugas diversas.
Na primeira das folhas amareladas, 
apenas uma frase a meia página:

"Caderno de Segredos"

Ao ler estas letras, 
não o desejei folhear mais.
Os segredos são isso mesmo.
Segredos e secretos.

Deixei-o pousado no mesmo lugar e virando as costas numa despedida sentida,
e não o olhei mais.







Toque

Deixei a mão pousada no corrimão da escada...
Sentia o frio da pedra já bem gasta de tantas outras
gerações de mãos, 
que a utilizaram indiferentemente.
Parara-me o coração no peito...
Não era mais capaz de dizer uma única frase com sentido...
Parei no tempo e o tempo assustado,
parou comigo.

Tinha terminado o primeiro ato. 
No fim da noite que passou como minutos
no que foram horas, 
as nossas mãos tocaram-se.
Foi feita a primeira aproximação nervosa e necessária.
Os teus dedos, 
a tua pele com as veias enfunadas,
dignas...
Controlado despedi-me saindo mesmo sem sinal de uma urgência.
Único.




Topo

Tanta cor...
Tantos os telhados direitos, 
magoados
leves e ousados...
São abrigos, 
casas com sabor a lar.
Serão moradas, 
terão sido prisões, 
são pedaços de vidas em paredes caiadas
de brancura namorada
com o contorno sublinhado das gotas de chuva.
Tanta textura, 
cicatrizes que são pedestais, 
janelas que são vigias.
Um Castelo que parece mais pequeno que uma Igreja empoleirada, 
que quer ser maior que um certo Castelo de pedra acostumada.
Tanto para ver nas sedes de luz, 
fome de sombras e fastio de contrastes de matizes tão doces...
Tanto Céu que mora nos telhados destas casas de Lisboa,
que as divide a meio com o Luar recorrente...


Todo isto faz sentido, 
assim partilhado contigo.