Dividimos tudo.
Somos
experimentados em compartimentar os pensamentos,
as acções a tomar,
as palavras a dizer ou a silenciar.
Temos cercas que
guardam e protegem de contágio,
as vidas dentro da nossa vida,
as nossas actuações
enquanto profissionais, pais, filhos,
amigos ou malditos conhecidos.
Tomamos este tipo de acção unicamente por uma questão de funcionalidade,
de tentativa de
controlo ao máximo do que é incontrolável,
num acto de sobrevivência só
nosso e tão pouco inteligente.
Mas assim
funcionamos, vivemos e lidamos com todos os aspectos que nos
influenciam,
transtornam, tocam,
modificam e nos definem para o bem ou mal.
Resolvemos os problemas e guardamos as soluções em gavetas acessíveis,
para acumulando em
arquivo de experiência;
as poder dispor à
mão numa ocasião que requeira tratamento igual
ou semelhantemente adaptável.
No entanto, para o nosso espanto e prazer,
nasce por vezes
milagrosamente,
algo que por ser
tão inesperado, puro e são;
nos faz sorrir à
larga e pressupor que a vida não é de modo nenhum
totalmente
seccionável.
Algo que mostra que
existe o destino, esse ente esquecido,
que nos faz acordar
dos marasmos,
das rotinas e não
ter a necessidade de classificar a razão de ser de um sorriso,
numa empatia
presente e distante de uma outra voz.
Gosto de viver assim.
Quem me vê, vê-me.
Com os meus rituais
e modos que me classificam, identificam e individualizam.
Sou este nome, este
corpo,
olhos e pessoa que
vive agora a descoberta da vida sem divisórias.
Esta descoberta que
é tão boa se for também partilhada.
Não dividamos tudo.
Tudo pode ser nada.