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30/12/2013

Procurai

Preciso do que não tenho e do que tenho não necessito.
Preciso de ter aquilo que mais desejo, 
para não desejar aquilo que menos necessito.

Confundo-vos?

Procurai estas afirmações dentro de vós.


 




Diálogos de surdez

Todos me questionavam quem eu era, 
de onde vinha quem havia sido, 
o que desejava ser.

Todos não falavam um na sua vez, 
mas sim todos ao mesmo tempo em segundos de horas eternas.
Nos seus excessos de perguntas, 
questões, demandas e procuras incessantes;
nem sequer se preocupam com as respostas,
nem por um minuto mesmo se lhes prendiam as línguas 
de modo a ponderarem as palavras que eu expelia.
Eu quase que ao gritar para eles murmurava ao vento.
Não eram as minhas respostas que desejavam nem o odor da minha voz!
Nos seus lábios iam pernoitando vocábulos de inquisição,
de muita expectativa e pouco discernimento.

Ao que parece nos seus ouvidos só seriam senhoras as respostas que eles já conheciam.
Apenas as desejavam escutar ecoadas com anéis de bom senso;
propriamente apropositados a uma realidade sem senso algum...








A nossa medida

Os meus olhos.
Nestes olhos tímidos esconde-se o que neles transparece.
São os meus sentimentos que não devem transbordar.
Na minha boca.
Apenas deveria sorrir sem nunca aprender 
como dizer palavras como “mágoa” e “melancolia”.
A minha boca apenas deveria saber como é acarinhar a tua.
As minhas mãos.
São fortes e fracas aparentemente no mesmo instante;
quentes e frias, 
sensíveis e sem dó ao meu querer.
Não podem não deixar de pertencer às tuas.
O meu peito.
Ele foi traçado à medida correcta do teu rosto.
Notas isso quando nele tomas posse e te aninhas.

Assim como os meus lábios são à medida dos teus, 
as minhas mãos o par das tuas,
os meus olhos abrem-se a desejar só ver os teus.









29/12/2013

Albino

Hoje falei de ti a alguém.
Falei da tua morte com a normalidade
de quase duas dezenas de anos que já se foram.
Tinha eu vinte e um.

Sei tudo o que a precedeu.
Tudo o que a sucedeu.
Confessei o que fiz e como com ela lidei.
Como a encarei no meu afrontamento.
Dei-me conta que já não consigo conhecer o teu rosto na minha mente.
Recordo uma ou outra expressão, factos e minutos de momentos.
Relembro palavras.
Umas proferidas com aspereza e outras com alguma pouca doçura, 
algo em que não eras farto.
Sei ainda o que fazias por mim, por nós, sem nada dizer.

O que mais me assustou e que agora quando te escrevo conta me dou, 
foi o facto de já não ter a lembrança da tua voz.

Conheci-te por tão poucos anos.
Não me viste casado.
Feliz ou desesperado.
Não estás aqui agora nem me conheces homem.

Hoje eu falei de ti a alguém.
Do meu Pai.








28/12/2013

Como peões

Vivo num tabuleiro de xadrez com um quadriculado tão diverso, 
que parece ser apenas feito de quadrículas negras.
Tão díspar que não me sei posicionar em ponto algum.
Este mesmo tabuleiro de jogo jogado sem sentido por opção, razão ou honra;
apresenta-se apoiado numa mesa com uma perna manca 
sem que lhe reconheçamos o contorno para a identificar e remediar.
Vou tentando, ensaio a ensaio e jogada a jogada;
fazer um xeque-mate ou pelo menos um xeque paralisador momentâneo.
Posiciono-me em modo a que me seja passível a respiração sem ser ofegante.
Movimento-me em delineado acaso.
Acabo por não ter a noção dos bispos, 
das torres, dos cavalos e peões todos que me vão cercando.
Acoitado resto-me.

Por momentos, 
é-nos benéfico vislumbrar o jogo por fora e presumir a próxima jogada.

Nestas estão progressos e retrocessos de mim.









27/12/2013

Amar

O amor seria eterno.
Deveria ser...
Um passado de solidão que se apagaria na união de dois corações, 
numa dádiva de mãos, num olhar sem corpo.

O amor é algo de tão puro quanto raro é.










24/12/2013

Sem direito a perdão

Bate-me à porta.
Faz-me repensar em ti e diz-me
o que desejas!
Torna o meu dia em longos ensejos;
as noites em abandonos profundos.
Permitir-me-ia a sonhar de novo se tivesse o teu perfume na minha cama outra vez.

Sombra de ti não tenho.
Memória de ti não sobrevive
sem que te veja.
És nada!
Foste quase
o imenso em mim, o melhor e agora o pior.


Bate-me à porta.
Vá, bate!
Para assim
eu ter a oportunidade calma de não ta abrir.








23/12/2013

I.N.R.I.

- Qual é o teu nome?

O meu nome não é mais dito de modo a que todos os homens o ouçam.
O meu nome  é poucas vezes redito 
nas bocas dos que se encontram enfartados.
É apenas pronunciado como deve ser, 
por todos aqueles que padecem
de todos os tipos de "fomes" e que aos Céus se prostram.

- De onde vens?

Venho de onde a fome não impera, 
habito onde o dinheiro nada vale.
Vivo no pico das montanhas mais altas e repouso nos vales mais pintados de verde.
Sou um com a areia das praias, 
brinco com as ondas de alva espuma enfeitadas.
Passeio com o calor laranja dos desertos mais braseiros.
Beijo as copas das árvores enlaçadas de folhas castanhas.
Em todos os lados e onde quer que um de vós esteja, 
estou e sou nele.

- Como reconheço a tua face?

O meu rosto é feitos dos rostos de todos.
Eu sou a cara dada a todas as gentes.
Sou de cor negra e de cor branca.
Assemelho-me com os que te cruzas nas ruas sujas, 
nas vielas molhadas negras.
Sou o pobre que por tecto cintou as nuvens que o abrigam,  
convivo nos palácios onde me torno a dama rica
que gasta numa só noite tanto como um mês de salário, 
de quem ganha num mês o que ela numa noite despende.
Sou todos e sou ninguéns.
Calço um sapato de verniz sem desdém ou uma humilde tamanca com amor.

- Porque eu não te vejo?

Não é necessário.
Porque eu vivo em ti sou também quem és.
Para me deteres no teu coração terás de te dar aos outros
onde eu existo também e neles podes reconhecer-me sempre.
Eu manifesto-me em ti.
Apresento-me sempre em todos os que te rodeiam e te tocam.
Sou também aquele que está aos teus pés.
Aquele que te olha nos olhos e sorri.
Que sofre ao teu lado e que vela por ti nunca estando ausente.
O que está acima de ti mas te mira olhos nos olhos...


- És o filho?

Meu filho, meu irmão, diz tu.









21/12/2013

Inocências

Mãe é o nome de Deus escrito nos corações e lábios dos que são os filhos.

Pai é esse nome dado aos Ventos, 
que se soltam na imensidão de cada um de tais peitos pejados de sonhos.

Amor é o sorriso que brota das faces, olhos e bocas, 
que fica eterno mesmo que sob qualquer negra penumbra.

Amar é conhecer o sorrir e reconhecer o chorar ao lado de alguém.




Em terminações

Nos Montes, nos charcos,
por nuvens bicolores.
Em Serras, em matos,
nas pétalas das flores.

Nos movimentos de quem caminha em frente.
Ao soar da voz que grita aos cantos.

Entre os olhos das gentes e gentinhas.
Nas tuas mãos esses teus encantos.

Se os Céus se tombassem;
as mágoas partissem.
Se os choros quentes das crianças secassem no ventre.
Se o "sempre" fosse mesmo para sempre.

Nada faz falta aos que nada têm.
Nem quem tudo possui ou julga já ter,
jamais deseja ser outro alguém.
Permanece na procura do não padecer em data incerta.

Termina tudo sem rimar porque tudo tem o seu fim
até mesma a rima indigente.

É a vida que é tal qual.
Nem o sempre é para sempre e até a dor tem um final.